O manifesto da verdade na terra da mentira - Sobre o novo livro de Lobão

Poeta Tulio Rodrigues


O Brasil é o país dos rótulos seja a quem agrade o sistema ou não. Recentemente Lobão lançou o seu livro, “Manifesto do nada na terra do nunca” e ganhou mais rótulos: “Ex-roqueiro” e “Propagandista da oposição”, foram alguns. Discordo com os rótulos. Primeiro porque mais do que nunca, Lobão vem fazendo seus shows pelo Brasil inteiro. Pelo que acompanho em seu Twitter, Lobão vem compondo novas músicas.

Um pouco antes do lançamento do livro, li uma matéria na “Folha de São Paulo”, em que Lobão chama a presidente de torturadora, Roberto Carlos de Múmia e Mano Brown de braço armado do PT. Claro que a entrevista teve repercussão e Lobão se defendeu pedindo que lessem o seu livro. Já iria fazê-lo antes, sou fã do Lobão, mas confesso que a matéria aguçou a minha vontade de me debruçar sobre o seu manifesto.

Poeta Tulio Rodrigues
No lançamento do seu livro, Lobão foi de uma gentileza ímpar com os presentes, bem como a sua esposa Regina. Comprei o livro e já voltei lendo no caminho para casa. 

Lobão abre o livro com o poema que podemos chamar de épico, é o “Aquarela do Brasil 2.0”,  cujos versos são de uma verdade triste da nossa sociedade, da nossa condição política e intelectual. São vários tapas na cara que devem ser ditos e não são. Em seguida, inicia o capítulo 1, “A terra do nunca” com a frase – Amamos a pobreza –. Uma crítica a quem diz que o povo brasileiro adora ser pobre, um povo legal, malandro e essas coisas que lemos e ouvimos do tipo “Lata d’água na cabeça/ Lá vai Maria subindo o morro (...)”. As críticas ao nosso cenário artístico feito por ele no livro, são salutares e devem ser levadas em consideração. Lobão não diz que Roberto Carlos é uma múmia, pelo contrário, fala da influência que Roberto Carlos, ainda na Jovem Guarda, teve em sua carreira. A única crítica é com relação ao que Roberto Carlos se transformou nos últimos anos.

Deixo claro que não concordo com tudo que Lobão fala, mas posso dizer que endosso 90% do que ele diz e entendo as suas razões com o que não concordo. Devemos entender que em questão e gosto musical, a escolha é pessoal. Lobão pode criticar e dizer que não gosta do que ele quiser. Devemos respeitar a sua opinião. Ponto!

No capítulo sobre a presidente “Vamos assassinar a presidenta da República?” Lobão nos leva a uma reflexão sobre o passado de Dilma, seus discursos contraditórios e a “Comissão da verdade”. Lobão não usa a expressão “torturadora” para a nossa presidente em nenhum momento! Lobão também fala sobre a sua relação com o PT. Ele esteve no coração do partido fazendo campanha, participando de comícios e até indo à TV pedindo votos. Será que ele mudaria de opinião à toa? Será que não há motivos para isso e para o que Lobão defende hoje? O PT não foi só uma decepção para o Lobão ou será que o Mensalão não existiu? Será que Lula não sabia de nada?

O livro é muito mais abrangente sobre o PT, a política nacional, sobre a Lei Rouanet e também sobre o rock nacional. Há dois capítulos simplesmente sensacionais que são: “Um pequeno mergulho no mundo sertanejo universitário (acidentalmente gonzo)” e “Viagem ao coração do Brasil”. No primeiro, Lobão se depara com questões inusitadas num lugar que ele não estaria, com pessoas que ele não se relacionaria, se fosse por sua vontade. No segundo, é sobre uma viagem em terras Amazônicas, com situações complicadas e curiosas. Há ainda a “Carta aberta de Lobão a Oswald de Andrade” que foi o mote do livro, no qual Lobão crítica e faz uma analogia da sociedade atual com o “Movimento antropofágico”.

Programa "A liga" sobre o sertanejo universitário:




“(..) O Brasil dos estupros consentidos na surdina,
dos superfaturamentos encarados como rotina,
dos desabamentos e enchentes de hora marcada,
dos hospitais públicos em abandono genocida,
dos subsídios da Cultura e artistas consagrados,
dos aeroportos em frangalhos, usuários indigentes,
dos políticos grosseiros, como sempre, subornados,
de cabelo acaju e seus salários indecentes,
da educação sucateada pelo Estado
em sua paralisia ideológica, omissa e incompetente. (...)

Lobão.
Trecho do prólogo – Poema “Aquarela do Brasil 2.0”
Livro “Manifesto do nada na terra do nunca”.


Twitter: @PoetaTulio


Comentários

  1. Vou ler! Valeu seu comentário. Já andava acompanhando os manifestos de Lobão e também tenho lhe dado razão. Abraços Túlio.

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    Respostas
    1. Obrigado Prof. Irapuan. Ao ler o livro do Lobão, constatei que além de fazer as suas criticas, o Lobão apresenta fatos que se olharmos, estão ocorrendo diante de nossos olhos. Obrigado pela visita ao blog e ao comentário.

      Abraços!

      Excluir

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