Vlado Herzog e a distensão da Ditadura

Poeta Tulio Rodrigues


No dia 31 de março de 1964, tropas do exercito foram às ruas para evitar uma guerra civil em alguns estados brasileiros. O presidente eleito Jango, foge para o Uruguai e naquele dia começaria a tomada de poder dos militares do governo do Brasil e que seria conhecido como os anos de chumbo. Duas décadas de puro obscurantismo! Apoiados pelos EUA, os militares, junto com as classes conservadoras, justificavam o golpe por temerem um golpe comunista. 

Os militares passaram a decretar Atos Institucionais. O primeiro deles ocorreu no dia 9 de abril de 1964, o (AI-1). O AI-1 cassava os direitos dos opositores ao regime militar e tirava a estabilidade dos funcionários públicos. O pior dos decretos ocorreu em 13 de dezembro de 1968, com o (AI-5), no governo do general Costa e Silva. O AI-5 cassava mandatos, aposentava juízes a revelia, dava todos os poderes ao presidente e fortalecia a repressão a quem se opunha a ditadura. 

Em 1974, o general Ernesto Geisel assume a presidência prometendo fazer uma abertura política para a volta da democracia, mas as coisas não acontecem desta forma. No inicio de outubro de 1975, uma série de jornalistas foram presos, acusados de fazerem subversão ou pertencerem a qualquer organização contra a ditatura, principalmente o PCB. Um desses jornalistas foi Vladimir Herzog. Preso, torturado e assassinado nos porões do DOI-CODI paulista após se apresentar para um interrogatório, no dia 25 de outubro. Herzog tinha 38 anos e era casado com a publicitaria Clarice Herzog e tinha dois filhos.

Vlado foi encontrado morto numa sala do DOI-CODI em São Paulo. Pendurado por um cinto em seu pescoço, os militares sustentaram a versão de que Herzog havia se suicidado. Versão não aceita por amigos, família e pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, presidido na época por Audálio Dantas. O Sindicato teve papel importante para que fosse derrubada a versão de suicídio. Vladimir Herzog era militante do PCB. 

A morte de Vladimir Herzog iniciou uma distensão na ditadura. A ditadura começou a cair ali. No dia 27 de outubro de 1978, o jovem juiz Márcio José de Moraes responsabilizou a União pela prisão ilegal e morte de Herzog. Afirmou o juiz em sua sentença: "bem como há revelações veementes de que teriam sido praticadas torturas não só em Vladimir Herzog, como em outros presos políticos nas dependências do Doi-Codi do 2o Exército". Veja-se a respeito —esclareceu o juiz— os pungentes depoimentos das testemunhas Gildásio Westin Cosenza, George Duque Estrada, Gofredo da Silva Telles Júnior, Antony de Christo, Paulo Sérgio Markun, Sérgio Gomes da Silva, Luís Weiss e a declaração extrajudicial prestada por Rodolfo Konder." Neste mesmo ano o então presidente Geisel acabou com o AI-5. 

Poeta Tulio Rodrigues
Atestado de óbito de Vlado Herozg
Em 15 de março de 2013, enfim a família de Vladimir Herzog recebeu o atestado de óbito com a seguinte versão: "decorrência de lesões e maus-tratos sofridos durante interrogatório em dependência do II Exército (DOI-Codi)". Como todos sabiam Vladimir Herzog não havia tirado a própria vida como foi sustentado durante anos. Segundo Clarice, a batalha continua. Agora é para saber quem matou não apenas Vlado Herzog, mas as outras vitimas da repressão. 

Agora cabe investigar e o Estado terá que fazê-lo. Aí que entra a participação do atual presidente da CBF, o Sr. José Maria Marin, que com um aparte ao texto do jornalista Claudio Marques, cobrava do governo de São Paulo iniciativas quanto às denuncias de Claudio Marques ao departamento de Jornalista da TV Cultura, onde Vlado trabalhava na época. 

Infelizmente o tempo da ditadura no Brasil é triste, covarde e por vezes penoso de revirar. Porém, não podemos dar de costas para nossa história por mais obscura que ela seja. A morte de Vladimir Herzog, como a de outros, não foi em vão. Isso é uma certeza!!!



Twitter: @PoetaTulio

Comentários

  1. 31 de março de 1964: contava, então, 11 anos.
    Na rua com a mãe, as pessoas corriam gritando: estourou uma revolução!
    Vivi todo este processo, dos treinamentos da artilharia em campos próximos à casa (à época São Gonçalo) às invasões desmotivas quando cursava a Universidade.
    Só quem viveu sabe o horror de uma ditadura.
    Justiça, mesmo que seja tarde!

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    1. Imagino Rô. Ainda bem que não vivi nessa época. Anos que deixaram muitas cicatrizes.

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